Janelas de Kaváfis || Minhas janelas

 

As Janelas - Konstantínos Kaváfis*

Nestes aposentos escuros, onde passo
dias agonizantes, ando em volta, acima e abaixo,
para achar as janelas. – Quando se abrir
uma janela, haverá consolo. –
Mas não há janelas, ou não posso
encontrá-las. E talvez seja melhor que não as ache.
Talvez a luz seja mais um tormento.
Quem sabe que coisas novas mostrará.



In: Floema - Ano VI, n. 6, p. 175-179, jan./jun. 2010, p.5. Disponível em: <http://periodicos.uesb.br/index.php/floema/article/viewFile/505/544 >. Tradução de Carlos Alberto Gomes dos Santos.

 

*** Konstantínos Kaváfis (1863-1903): Grego. Sobrenome também grafado como Cavafy. Poeta histórico-mitológico, erótico, coloquial.

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Gosto de janelas. Ao entrar em um cômodo, busco a janela.
O que se mostra? É o que vejo?
Procuro uma saída ou outro ponto de vista?

 

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Janelas (para mim):

 

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Nighthawks_by_Edward_Hopper_1942E. Hopper – Nighthawks

 

 

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Esboço de tradução #2 – Ein Auge, Offen – Paul Celan

Um olho, aberto

 

Horas, coloridas de maio, frias.
O que não há mais para nomear, quente,
audível na boca.

 

A voz de ninguém, novamente.
Dolorida profundidade do globo ocular:
a pálpebra não fica no caminho,
os cílios não contam
o que entra.

 

A lágrima, metade,
o aguçado cristalino, móvel,
mostra-lhe as imagens.

 

Texto original  (1959):

EIN AUGE, OFFEN
Stunden, maifarben, kühl.
Das nicht mehr zu Nennende, heiß,
hörbar im Mund.
Niemandes Stimme, wieder.
Schmerzende Augapfeltiefe:
das Lid
steht nicht im Wege, die Wimper
zählt nicht, was eintritt.
Die Träne, halb,
die schärfere Linse, beweglich,
holt dir die Bilder. 


In: Gesammelte Werke in sieben Bänden. Hg. von Beda Allemann und Stefan Reichert unter Mitwirkung von Rolf Bücher. Frankfurt a. M.: Suhrkamp.

 

 

 

 

**Paul Celan (1920-1970): Romeno, de origem judaica. Nato Paul Antschel. Sua poesia hermética aborda, principalmente, o absurdo da existência após o Holocausto (Shoah), de maneira simbólica e melancólica.