Esboço de tradução #2 – Ein Auge, Offen – Paul Celan

Um olho, aberto

 

Horas, coloridas de maio, frias.
O que não há mais para nomear, quente,
audível na boca.

 

A voz de ninguém, novamente.
Dolorida profundidade do globo ocular:
a pálpebra não fica no caminho,
os cílios não contam
o que entra.

 

A lágrima, metade,
o aguçado cristalino, móvel,
mostra-lhe as imagens.

 

Texto original  (1959):

EIN AUGE, OFFEN
Stunden, maifarben, kühl.
Das nicht mehr zu Nennende, heiß,
hörbar im Mund.
Niemandes Stimme, wieder.
Schmerzende Augapfeltiefe:
das Lid
steht nicht im Wege, die Wimper
zählt nicht, was eintritt.
Die Träne, halb,
die schärfere Linse, beweglich,
holt dir die Bilder. 


In: Gesammelte Werke in sieben Bänden. Hg. von Beda Allemann und Stefan Reichert unter Mitwirkung von Rolf Bücher. Frankfurt a. M.: Suhrkamp.

 

 

 

 

**Paul Celan (1920-1970): Romeno, de origem judaica. Nato Paul Antschel. Sua poesia hermética aborda, principalmente, o absurdo da existência após o Holocausto (Shoah), de maneira simbólica e melancólica.

Publicado por

nausikaa1989

Em alto-mar lancei-me em busca de Ulisses, prosa e poesia.

Deixe um comentário